sexta-feira, 12 de novembro de 2010

1 - livro que mais gostei


1984 não deveria estar nesta lista - não porque é hors concours, mas porque não é obra literária. Se George fosse Jorge e Orwell fosse Hórvel, e Eric Arthur Blair brasileiro e do sexo feminino, chamar-se-ia Mãe Dináh. Caso nascesse homem no Brasil: Pai Jorge. 

Mas ninguém leva a sério jogadores de búzios e tarô. Então, Pai Jorge, quando teve a premonição, resolveu transformar sua viagem ao futuro em romance. Assim seria respeitado, e não tratado como charlatão. Tornou-se, portanto, o autor do melhor livro de todos os tempos – todos os tempos que passaram e virão -, melhor livro que existe, existiu ou existirá. 

Já Nostradamus, que preferiu ser profeta a escritor, será eternizado na memória popular como mero louco, um Valter Mercado arcaico. Em 2012, quando todos reconhecerem sua sanidade, será tarde. A terceira grande guerra já terá eclodido e só as baratas restarão.

Jorge Hórvel nasceu na Índia, teve pais ingleses que chamaram-no de Eric Arthur Blair. Eric Arthur Blair nasceu vidente, mas queria ser escritor. Transformou-se em George Orwell e escreveu 1984.
  

10 livros em 10 dias

   Não sabia o que era meme até ler um post num blog de uma amiga. Eu entendi meme como uma espécie de mistura de lista de perguntas que todo mundo tem de responder, misturada com uma corrente internáutica... Vamos lá.
  • 1° dia – Livro que você mais gostou;
  • 2° dia – Livro que você mais odiou;
  • 3° dia – Livro mais barato que você comprou;
  • 4° dia – Livro mais caro que você comprou;
  • 5° dia – Livro que mais te fez ter a atenção nele;
  • 6° dia – Livro que menos te fez ter a atenção nele;
  • 7° dia – Livro que você mais recomenda;
  • 8° dia – Livro que você menos recomenda;
  • 9° dia – Série de livros que você mais gosta e;
  • 10° dia -Livro mais velho que você tem ou leu.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Mais um pra coleção

 
 
   Sentia falta da bebida. Não me lembrava da última vez que havia passado dois dias seguidos sem botar nada de álcool pra dentro. Não me lembrava da última vez em que passaraum dia sem beber nada. Às vezes isso me deixava preocupado. Não queria me preocupar com isso. Não queria me preocupar com o que diziam sobre o cigarro e a bebida. Odiava quando tocavam no assunto. Eu só queria esquecer toda essa propaganda que te fazem acreditar que sabem o que é certo.
    Eu já tinha problemas o suficiente para me preocupar, não queria me preocupar com os meus vícios, não agora. Mas insistiam - tanto as propagandas, que eram mais fáceis de evitar, quanto as pessoas, essas mais difíceis de controlar - em repetir, que nem papagaios, as propagandas. Outra coisa que me agoniava eram os produtos light, diet, zero, sem açúcar. Mulheres com essas frescuras eu já estava acostumado a ver. Desde criança via boa parte das mulheres fazendo dietas e tomando refrigerantes dietéticos. Tudo bem. De uma hora pra outra, virou febre. Homens, mulheres, crianças, todos submetendo-se ao slogan: “Sejais saudável e tereis uma vida longa; senão morrereis de câncer”. E te olham como um câncer. Mais uma forma de controle: a busca da longevidade e do corpo perfeito. A busca da neurose e do corpo imperfeito; é isso que conseguem. E, assim como uma doutrina, religião ou culto, tentam te impor os padrões e te ameaçam. Da mesma forma como já fui “ameaçado” por um evangélico: “Quem não se entrega a Deus não alcança o reino dos céus”. Mesma coisa.
    Como já não bastassem os problemas que eu criava pra mim, eu ainda tinha que cultivar as neuroses dos outros, que volta e meia emergiam em minha mente. Era uma briga constante tentar expulsá-las. Problemas, na verdade, eu não tinha nenhum; mas sabe como é, qual a graça de viver sem problemas? O Veríssimo, Luís Fernando, escreveu uma ótima crônica na Folha de São Paulo a respeito. Não lembro o nome. Tratava de um cara que acordou e viu que tinha alguma coisa errada em sua vida, pois tudo corria bem, e quando, no final do conto, surgiu um problema, ele se contentou e sentiu que, agora, estava tudo bem. Então eu criava os meus problemas. Problemas com mulheres; e problemas com o medo de fracassar perante qualquer situação. Eu queria deixar a vida fluir, eu era expert nessa arte.  Ou pelo menos achava que era. Ia vivendo e as coisas iam acontecendo. Tudo acabava bem no final. E tem acabado até agora. Mas eu preciso criar problemas, preciso das minhas neuroses. Se eu não for neurótico, vou ser o quê? Psicopata, perverso, histérica?
   

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Aonde mais eu poderia estar?

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Num hotel de loucos
Na sala de estar
Dum hotel de loucos
Clichê me encontrar

Onde fico rouco
De tanto gritar
Fico louco
E posso me matar

Fico oco
Sem me julgar
Não me dizem “bobo”
Se não regular

Onde foi ao encontro
Meu último bem-estar
Num hotel de loucos
Na sala de estar.

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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Quem pretende ler 1984 não deveria ler este texto


    “Nos encontraremos num lugar onde não há escuridão”, disse O’Brien a Winston. O que não se passava pela cabeça de Winston era que a falta de escuridão é pior que o próprio breu; que o excesso de luz cega de maneira ofensiva – muito pior que qualquer trevas. Winston ficou aliviado, afinal de contas O’Brien era realmente seu aliado; era contra o sistema que enegrecia e corrompia e distorcia, de forma sorrateira, a história do país em que viviam.
    Winston não suportava - apesar de participar do processo - a idéia de os fatos serem distorcidos de acordo como melhor se enquadravam no momento político do país. Ele fazia parte disso, era cúmplice: redigia e reescrevia os fatos todos os dias; e os livros e jornais antigos eram queimados, para não haver dúvidas de qual versão era a verdadeira. Sabia que tinha algo de errado com o país em que vivia; ou seria com ele? O’Brien lhe tirou a dúvida: se alguém, tão lúcido e altivo como O’Brien, também achava que tinha algo errado, que o modo como as coisas funcionavam não deveriam ser assim, talvez, ou quase certo, Winston não estava ficando louco.
    Sentiu uma mistura de alívio com euforia; ele era sano; e o mundo, insano. Precisa, agora, dar um jeito de comunicar-se com O’Brien, de aliar-se a ele. Se O’Brien acreditava que outro mundo era possível, outro mundo deveria ser realmente possível. Porque, para Winston, viver num mundo sem história fatídica era impossível. Ele vivia num mundo impossível. O que fazer agora para alçar o mundo possível? Certamente O’Brien saberia a resposta. E Winston estava disposto a ajudar, a se sacrificar, se fosse necessário; faria de tudo para construir um novo mundo, baseado no fato e não na ficção: um mundo não fictício, onde todos poderiam confiar nos livros de história.
    Foi feliz do trabalho para casa. Precisava contar o que ocorrera para Júlia; sua suspeita se confirmara: O’Brien era mesmo aliado, e haveria de ter um plano para a construção de um novo mundo. Afinal, O’Brien lhe dissera: “Nos encontraremos num lugar onde não há escuridão”. Chegou entusiasmado em seu apartamento. Passou a mão no telefone e ligou para Júlia – havia esquecido completamente que há de se ter extremo zelo ao falar de certos assuntos, porque a polícia poderia prendê-lo ou até mesmo matá-lo; ninguém sabia ao certo o que acontecia com os contestadores do sistema.
    Acordou num lugar claro, tão claro que não conseguia discernir de onde vinham as luzes. Não havia salas nem corredores; tudo o que se podia ver, ou tentar ver, era um galpão enorme, que não se sabia que altura, largura e comprimento tinha. Winston não sabia se Júlia também havia sido pega. Será que ele tinha estragado tudo? Será que até O’Brien se ferrou por causa daquele estúpido telefonema? Ele sabia que dificilmente os veria de novo; e que provavelmente assinara sua sentença de morte. Se pudesse faria de tudo para salvar os dois, mesmo que tivesse que sofrer por anos a fio antes de sua execução.
    Passado o susto, ele conseguiu organizar os fatos em sua mente e lembrar o que acontecera após chegar em casa e discar para Júlia.
    “Ele é nosso aliado. Ele é nosso aliado, Júlia. Certamente ele deve ter um plano. Vou falar pra ele que você também é aliada; que você também não concorda com o sistema”.
    “Cala a boca, Winston. Eu não sou contra o sistema coisa nenhuma, nem sei do que você está falando. E não me incomode mais”.
    “Tu tu tu tu...”
    Júlia sabia que Winston tinha cometido um grande erro, e previu, e acertou, o que poderia acontecer. Mas, mesmo falando daquele jeito ao telefone, ela não conseguiu escapar. Também fora pega e estava “no lugar onde não há escuridão”.
    Quinze minutos após Júlia desligar o telefone - na mesma hora Winston se deu conta da burrice que tinha feito -, bateram à porta. Ele abriu-a e bum; nem viu o que lhe atingira. Quando acordou não via nada. Se deu conta que a claridade absoluta é quão ruim ou pior que a escuridão. E, se O’Brien havia lhe dito que se encontrariam num lugar onde não há escuridão, era porque ele não era seu aliado e sim aliado do sistema. Se sentiu aliviado, porque, a qualquer sorte, mais cedo ou mais tarde, ele e Júlia haveriam de ser pegos, pois acreditariam piamente em O’Brien. E O’Brien era um agente duplo.
    Pensando melhor, Winston concluiu, ele já sabia que haveria de morrer e que sua luta contra o sistema seria em vão. Ninguém pode ganhar do sistema; o máximo que se pode fazer é aceitá-lo e assimilá-lo. Quem houvera colocado essa história de mundo justo, moral, ético, livre – mesmo porque essas construções abstratas eram tão absurdas quanto à idéia de modificar o sistema – Winston não sabia. Por que ele havia de ter esses sentimentos; essa preocupação com os proletários, com o fictício e o fatídico, com os livros de história? Enfim: por que haveria ele de se questionar tanto em vez de viver numa boa? Por que, justo agora, que estava namorando com Júlia, não se abstivera de seus ideais? Por que dar murro em ponta de faca? Chegou a conclusão que cometera suicídio, e levara junto Júlia – justamente sua grande paixão. Realmente ele não merecia viver: um ser humano que, se pudesse prever o futuro, faria o que ele fez, precisa morrer; sofrer, sofrer e morrer.
    Uma alegria cálida invadiu o corpo de Winston. Ele sorriu: afinal, o mundo era justo.


domingo, 7 de fevereiro de 2010

"liberdade: uma destas detestáveis palavras que tem mais valor do que significado" parte II, que deveria ser a parte I


    Quero dormir e ficar acordado; comer e jejuar; fixar-me e me mover; conversar e me calar. Sinto e não sinto, concomitantemente, vontade de mijar e cagar. Sou a melhor e a pior pessoa do mundo. Sou solidário; me importo com os outros. Sou egoísta; só penso no que será melhor pra mim; nada mais.    
    Necessito de um emaranhado de pensamentos, maior do que os habituais, para poder não pensar, ou poder pensar por mim com nenhuma ou menor influência externa. Só preenchendo o casulo, atordoando-o com excesso de informações, é possível ser livre de falácias externas. Antagônico? É o único jeito, pois, a partir da inserção social, a contaminação está feita, e as vozes externas e internas já não se distinguem mais.
    Preciso juntar todos os discursos, construções do âmago e do exterior, misturá-los e confundi-los ainda mais, deixando a confusão e caos tomarem conta. Porque, livrar-se de todas as retóricas, é impossível; exceto aos perversos: os únicos que se podem dizer livres.
    “Liberdade: uma destas detestáveis palavras que tem mais valor do que significado”. Cito a frase sem dizer o autor por ignorância. Li ela numa edição da Caras, na seção de pensamentos de personalidades. Voltando à citação, quero ilustrar duas possíveis hipóteses. Primeiro, a pior delas: em um mundo onde todos fossem livres (perversos) e fizessem tudo o que lhes der na telha, o caos reinaria; viveríamos na barbárie. Conclusão: concordaríamos com o pensamento citado: é impossível ser livre numa sociedade civilizada. A segunda, um pouco mais romântica, é que seria possível sermos livre, contanto que evoluíssemos a tal ponto onde não seríamos egocêntricos, abafaríamos o ego a tal ponto que sentiríamo-nos parte dum todo; conseqüentemente não sairíamos “nos” matando ou “nos” agredindo. Mas, a segunda hipótese, que a primeira vista pode parecer romântica e utópica, esconde a face da desumanização que acarreta uma perda de individualidade. Conclusão: para sermos livres precisaríamos perder a essência humana: a individualidade. O que seria uma contradição, já que para ser livre teríamos que abolir a palavra liberdade do vocabulário, pois seu sentido real deixaria de existir. Sem individualidade e capacidade de escolha “liberdade” e “livre” perderiam o sentido de serem acoplados ao dicionário. Portanto também cabe a esta hipótese a frase retirada da Caras.
    Ainda poderia abrir para mais possibilidade - que seria mais utópica que qualquer sistema socialista e capitalista já sonhados e mais abstrata que qualquer conceito de justiça ou de bom e mau – que tentarei descrever: seríamos todos livres (perversos), mas nossos sentimentos e vontades verdadeiras seriam compatíveis com o mundo civilizado e não haveria barbárie; não necessitaríamos de poderes; para tentar resumir e exemplificar o máximo que consigo: não necessitaríamos de polícia e nem nos policiarmos uns aos outros nem a nós mesmos, e também não existiriam grandes. A anarquia utópica.
    E, tentando ser livre, saí do transe. O som ainda penetrava fundo em minha mente; a caixa de som colada à orelha. E todos dançando como se espera que dancem; com medo de parecerem retardados.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Poesia do armário

Muitos querem
Poucos conseguem
Sair de mim

Esconder-se
Dado tempo
É bom

Uma hora
Perde a graça
Eu digo: “saia”

Ele veste a saia
E sai.

domingo, 3 de janeiro de 2010


 


quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Aos anos velhos e aos anos novos


Balanço do anus: 750 cagadas.
Para o próximo, desejo: 750 cagadas.
Passar a virada de marrom
Seria sensato.

Comilança e bebida
Até o cú fazer bico.
No primeiro do ano,
Uma bela cagada.

Faltam 749.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Hospital psiquiátricos e Centros Espíritas


   Eu estava internado em um hospital psiquiátrico há três dias. Já começava a sentir vontade de me matar. Descobri que minha prima também era interna do hospital. Ela vomitou seu espírito em um copo. Me falaram que se eu tomasse o espírito dela eu morreria. Foi o que eu fiz, foi o que ela fez. Quer dizer, ela tomou mais do que eu, eu desisti no meio porque percebi que aquela horrível experiência poderia me render um bom livro, e tentei me livrar da morte vomitando o espírito vomitado. Foi uma loucura quando acordei.

 

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Eliane Brum contra os clichês

    Texto magnífico da Eliane Brum . É mais fácil deixar-se moldar do que moldar-se. Só apagando as vozes exteriores e escutando as interiores é que faz sentido. O resto é balela. É esta a síntese da minha interpretação de seu texto.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

delongasculpa ou deculpalongas

   
    Não adianta. O negócio é sentar e escrever. Sem recuar. Sem pensar. Sem estratagema. Sentou, escreveu, tá pronto. O problema são as veadagens, digo, preocupações que atormentam o imaginário: que nunca tá bom o suficiente, que poderia ser melhor, que alguém lerá e não gostará; essas boiolices todas, ou todas essas boiolices, sei lá. Só o que faltava é ter a ambição de escrever um baita texto num blog, ainda mais no meu que é lido por meia dúzia de gatos pingados – quero deixar bem claro que não estou menosprezando os gatos pingados, só estou menosprezando meu blog, apenas isso. Então o negócio mesmo é sentar e escrever. Sentei, escrevi, pronto. Pode perceber, você leitor, você leitora – ou você leitora, você leitor, antes que alguma feministazinha barata venha me questionar a respeito da ordem dos gêneros -, que há tempo venho escrevendo sobre escrever, isso tudo por causa da falta de criatividade, e bem por isso tenho que menosprezar meu blog para não me menosprezar, desdenhando-o consigo um argumento, plausível ou não, que me legitime escrever sobre escrever.

    Então faço assim: escrevo sobre escrever e vomito um emaranhado de justificativas confusas com intuito de me safar. Vê se pode um troço desses? Fico eu aqui, dizendo pra mim mesmo – mentalmente, tá?, não estou ou sou tão louco assim -, arranjando desculpas para não ter que pensar em algo de novo para postar aqui, ou digo que faço isso pra não ter que pensar em algo novo porque na realidade não consigo pensar, realmente, em algo novo, neurose, neurose, neurose, e por aí vai. Veja, você, que eu disse que não estou ou sou tão louco ao ponto de falar sozinho, mas justificar-me perante uma massa (meia dúzia de gatos pingados) sem rosto e entrar em um ciclo neurótico vicioso de justificativas tudo bem pra mim. Quanta incoerência, quanta neurose, quanta mentira. E só mais uma coisa, odeio esse tipo de gente que fica se justificando o tempo todo.

sábado, 14 de novembro de 2009

O elevador caiu pra cima

 
    Eu, particularmente, em minha própria opinião, expresso toda a revolta, advinda do meu âmago, que possuo dentro de mim mesmo. Mais precisamente, quando digo que subir pra cima ou descer pra baixo não são pleonasmos, não estou apenas defendendo uma hipótese absurda criada por um insano com disponibilidade ociosa muito maior do que deveria, possibilitando, assim, uma teoria conspiratória a respeito de pleonasmos, quero, realmente, dizer que tem fundamento baseado, principalmente, na especificidade de que um considerado pleonasmo possa acrescentar a uma ideia.
    Por exemplo, esses dias, soube duma história, e não soube duma estória, de um elevador que caiu pra cima. O cara saiu branco, não chegou a se machucar, mas é óbvio que qualquer queda de elevador, em qualquer direção, tanto pra cima como pra baixo, tem o poder de causar espanto. E claro que também causou-me interrogações, afinal, contaram-me que o elevador caíra pra cima. Mas achei a explicação bem plausível, aliás, a única maneira de expressar que o contra-peso, que equilibra e dá a cadência certa ao elevador, rompera e fizera com que o elevador subisse, subitamente, até o último andar, como consequência a brancura do homem que caiu pra cima. E ele disse que o elevador caiu, e caiu mesmo, não haveria outra maneira de contar este fato, sem entrar em maiores delongas, do que dizer que o elevador caiu pra cima, porque o sentimento foi de queda, de o quedar súbito, e a expressão que melhor designa isso, por mais absurda que possa parecer, é: o elevador caiu pra cima.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

"Liberdade: uma destas detestáveis palavras que tem mais valor que significado"


    Negros descem e sobem a montanha, carregam pedras e troncos. Do cume, após um dia de trabalho regado a suor e cansaço, almejam, com os olhos embotados de pôr-do-sol escondendo-se na unção entre oceano e horizonte, de meninos e meninas brincando pelas ruas de paralelepípedo, de senhores e senhoras rindo e bebendo vinho e de casinhas, construídas umas encostadas às outras, de tão felizes famílias livres, um dia, nem que seja nos fins de suas vidas, serem livres.

    Abraçado ao negrinho, o já velho, porém forte, negro, com os olhos tentados a transbordar desesperança, disfarça e tenta expressar um esboço de esperança.

    - Um dia o teu filho irá brincar de bola igual àquelas crianças, um dia beberás vinho com tua mulher e sorrirás alegremente.

    O negrinho, sabendo do esforço de seu avô em tentar poupá-lo, sorri dissimuladamente, tentando persuadi-lo que cria em tudo o que o mais velho contava. Era esperto o suficiente para perceber que aquelas estórias que escutava não passavam de estímulos enganosos com intuito de não permitir aos negrinhos perderem a vontade de viver.

    Mesmo sem vontade, e sem condições de atribuir sentido algum ao seu dia-a-dia, continuava a rotina, dia sobre dia subindo e descendo a montanha, carregando pedras e troncos, para construir sei-lá-o-que para sei-lá-quem.

    O agora não mais negrinho, no fim dos seus dias, encontra-se abraçado ao seu neto, após um longo dia de trabalho, no cume da montanha, observando o pôr-do-sol.



sábado, 7 de novembro de 2009

Utilidade Pública

Consegui postar nada. Não consegui postar nada. Se não consegui postar nada é porque consegui postar algo. Se postei algo é porque não consegui postar nada. Se consegui postar nada é porque não postei algo. Se não postei algo é porque postei nada. Queria postar nada. Não consegui postar nada.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Redutor de neura


    Jogo. Leste jôgo ou jógo? Tá, foi só um caricaturismo. Pára com isso. Agora, com essa palhaçada (acordo ortográfico), seria: Para com isso. E se só colocasse Para com isso, sem antes contextualizar... Ambíguo? É, eu sei. Pediria um complemento, no segundo caso [(Para usado como preposição) te subestimo demais? É fruto da neurose de ser incompreendido]. Porventura, quisesse eu,  por motivo qualquer, frasear de maneira incompleta, sem contextualizar, ficaria à mercê da tua interpretação (obviamente, sempre fico, mais ainda sem o acento diferencial).

    Pra quê simplificar se se pode complicar? As nuanças da língua propiciam maior proximidade - não significa que chegarei a estar próximo de ti -, menor desaproximação (afastamento). A minúcia, a meticulosidade, o pequeno detalhe (tá!, não vou ficar explicando aqui o pleonasmo do pequeno detalhe e nem os sinônimos “desnecessários”) são, necessariamente (invariavelmente), necessários, principalmente pra ti e pra mim, pois permitem a diminuição das neuras. Será que entendi o que quiseste que eu entendesse [(aqui, há uma rápida inversão de pessoa em relação ao pronome - o escritor se transforma na segunda do singular e o leitor  na primeira - para, na frase seguinte, voltar ao que era) ficou um tanto rodapé e quebrou a fruição, fazer o quê?]? Será que entendeste o que quis que entendesses?

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Fragrância

   
    Invariavelmente, em qualquer situação, gostava de provocar. Utilizava todos a sua volta como cobaias. Era asqueroso: peidava em público com a maior naturalidade. E, ao contrário da maioria, não se sentia constrangido em momento algum. Era tão natural a atitude que tinha ao peidar que quem ficava constrangido eram os outros que inalavam seu perfume.

    Foi sempre assim. Já na escola, quando criança, peidava deliberadamente em sala de aula; seu apelido era Peidão, exceção à regra, pegara apesar do gosto do apelidado pelo apelido. Até a professora se constrangia, ninguém mais sentava ao seu lado, havia um vácuo de carteiras a sua volta. Começou com um simples peidinho silencioso que deixara escapar um pequeno ruído condenatório, depois até forçava para deixá-lo barulhento, chegou a um ponto em que fazia posições, levantava uma das pernas e soltava a bufa. Era tão gostoso, o poder de constranger, pois pouco importava o que falavam dele pelas costas, afinal de contas, o que tinha importância eram as expressões de nojo e constrangimento que tirava dos rostos alheios.

    Agora, já velho, gosta de sair por aí e peidar, ver os rostos de espanto e de compaixão, pois pensam que o pobre velhinho não consegue nem mais segurar as pregas. Era só uma nova tática que a idade lhe propiciava.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Preocupação


    Saí de casa matutando, incomodado com uma situação; preocupado, como só mais tarde veria, à toa. Amanhã, vejo, como só no futuro poderia ver, que aquela situação de modo algum me incomodara. Hoje, chegou até a perturbar meus pensamentos, mas, amanhã, diz-me nada, é irrelevante. Porém, no momento em que ocorreu, não enxergara, aquela discussão realmente empesteou meus pensamentos, e fizera-me sair de casa matutando incomodado.

    Como pude pô-la em primeiro plano, se, amanhã, compreendo perfeitamente a indiferença que ela se encontra? Sinto-me tolo bem por causa disto, da irrelevância que só amanhã consigo ver. Se previsse, como suponho que poderia prever, o sentimento de indiferença, que amanhã sinto, não perderia o dia todo pensando sobre a discussão.

    Desgasto-me, amanhã, em vão, como já houvera me desgastado hoje, tão em vão como amanhã, e igualmente em vão me desgastarei depois de amanhã, perguntando-me porque me desgastara, amanhã e hoje, com pensamentos sem importância.

    Um dia não me preocuparei mais.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Vômito


    Vício. Não há outra explicação senão o vício. Não sei se se pode chamar de vício; ou se vício seria a designação mais adequada. Por falta de vocabulário, ou talvez por falta de ciência do que realmente é, denominarei vício. Sem contar os outros dois hábitos, que eu já posso tomar como vício –  beber café e fumar -, apesar de que, principalmente o primeiro, eu não considere vício, mas como ingiro diversas doses ao dia, devo chamar de vício, pelo menos é assim que esperam que eu chame, porque, de outra maneira, eu seria tido como um viciado de qualquer forma, um viciado ainda mais viciado, que nem admite o próprio vício. Cigarro, até que, de certo modo, me considero viciado, mas, no âmago, não me considero, porém, tendo a me considerar, ademais, se eu não me considerasse, pensaria que isto seria apenas um truque da minha própria mente, tentando me iludir. Então, para todos os efeitos, digamos que eu seja viciado em café e em cigarro, e estou a um passo de considerar, sentar a bunda na cadeira e redigir um texto medíocre a respeito de minhas entranhas, um vício. Já tendo a achar ruim, porque, qualquer vício, por mais inofensivo que seja, é sempre um vício, e vício nunca é visto com bons olhos. Carregar o peso da palavra viciado é sempre um estorvo. Pior seria, carregar o peso da palavra viciado sem admitir que se é um viciado, por isso, talvez, admita.
   
    Não há razão para que eu pare, pelo menos não agora. Também não há razão para que continue, não agora. Talvez seja a necessidade de expor as entranhas. Tô com vontade de cagar. Era isso.

domingo, 25 de outubro de 2009

Redundância Redundante

   
   Voltei pra esse demonho. Voltei para o sublinhar incessante. Sem problemas, já estou acostumado, ou penso estar. Tá parecendo mais uma continuação do outro post; será que agora só vou escrever assim?, sobre essas inutilidades escritórias... Imagino que não. Pararei por aqui. Nada de tá, escritórias, começar frases com pronome oblíquo, nada disso. Voltarei à chatice de antes, não que isto aqui não seja chatice. Opa, já ia me esquecendo, sem repetições também, mas vou deixar esta última passar por preguiça. Agora, vou dar uma desculpa para falta de assunto: perdi o fio da meada porque a campainha do telefone soou e atendi e falei durante poucos minutos. Só o que me resta, neste instante, é falar baboseira, é discorrer sobre a falta de assunto. Aquela velha história já ensebada: escrever sobre vísceras; que tática mais mesquinha. Bolei um título agora, que, de repente, será uma grande justificativa para todo este engodo seboso.

    Veja o tão podre posso ser. Escrevo e denigro e viscero (fui obrigado a criar este verbete aqui, mesmo já tendo prometido não o fazer mais), assim fica claro que tenho ciência da besteira que estou falando, assim, acho eu, torna-se mais tragável para ti e para mim; faz-me pensar que poderia produzir um texto melhor e faz-te imaginar o quão criativo e engraçadinho é este blogueiro. “Tem, pelo menos, senso de humor, e isso já é alguma coisa”. Denunciei-me, o que estás a pensar (estás a penar, que coisa mais lusitana) agora é que sou realmente mesquinho, produzir um texto só para ti pensares que, se, não sei escrever sobre qualquer assunto, tenho senso de humor para tirar sarro de mim mesmo. E se parares pra pensar bem, acabei reler o texto, até agora não falei nada com nada, ou melhor, falei nada com nada, ou melhor ainda, falei nada, ou disse coisa alguma. Esta última frase mesmo... E está última... E esta... E... E é claro que isto é só retórica; e o que não é retórica? Hein, hein?


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Blasfêmia


Comecei pelo título mesmo. Nem me dei o trabalho de abrir o word, vou por aqui mesmo, seja o que Deus quiser. Seja o que eu quiser. Pensei em ir direto ao assunto; resolvi dar uma embromeichon. Aqui, consigo até escrever embromeichon sem problemas, odeio o sublinhar vermelho do word, me irrita. Ou o verde, posso começar uma oração com um me. Nunca tinha pensado nisso, mas, às vezes, o word pode constranger um tanto a liberdade poética. Por outro lado, pelo tamanho do retângulo que tenho para escrever diretamente pelo blog, acabo tendendo a me limitar a redigir pouco, odeio essa mania também de sinônimos, queria mesmo escrever que acabo tendendo a me limitar a escrever pouco, só por essa justificativa terei que escrever (repetir) - ó aí ó, a terrível mania de fugir das repetições das palvras - escrever um número maior ainda de vezes, só para constar que foi proposital a repetição condenada. A frase originalmente formulada ficaria, e vai ficar: ... acabo tendendo a me limitar a escrever pouco. É isso aí. Gosto de repetições. Gosto de escrever errado, gosto de começar frases com pronome oblíquo.


Está acabando o maldito retângulo, é claro que ele não é limitatório (mais uma vez terei que justificar, simplesmente não quis escrever limitador, acho mais bonito limitatório), mas acaba influenciando a escrever menos, não gosto de ver escrito só o que o retângulo suporta, gosto de ver o texto na íntegra, sei que na hora da postagem aparecerá por inteiro, de qualquer forma, tanto escrever no word, como no próprio blog, me incomoda. Talvez um dia me acostume, talvez não. Talvez. É óbvio que é talvez, o que na vida não é talvez (ponto de interrogação). Enfim, di-lo-ei a quê vim. Ah, também gosto dessa merda aí de mesóclise, pode ser um tanto controverso, mas, afinal, pra que tenho blog, se não é pra blasfemar livremente, mesmo, muitas vezes, eu me auto-censurando. Então, voltando ao assunto principal, ou inicial, ou o que fora considerado por mim a inspiração para começar este post: eu abandonei a leitura de "Hamlet". Abandonei, (interrompi o aparelho de DVD quando assistia, qualquer merda de substituição sinonímia) duas vezes, "2001, uma Odisséia no Espaço", entre outras tantas blasfêmias que já cometi. É claro que é só retórica. Agora o final deste post tá me complicando, tô com sono e preguiça de continuar escrevendo e preguiça de ir pra cama e preguiça de levantar da cadeira e preguiça de bolar um final. Certas horas até receio em me arrepender de admitir essas blasfêmias, tem outras tantas que preferi ocultar. Outros livros e filmes inacabados. É isso aí (pensei em um final assim: prefiro blasfemar para os outros do que blasfemar pra mim; obviamente me auto-censurei e não tive coragem de colocar um final destes).

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Jaspion e Gabriel


Jaspion, eu, Gabriel Pensador e Zé.

Pior (ou melhor) de tudo: os três tocavam na mesma banda. E pra quem não acreditava em mim, quando contava a história, tá aí a prova.

domingo, 27 de setembro de 2009

Por que gastei 34 reais em livros?









Esses dias senti vontade de roubar três livros. O jogador, Dostoiévski, Carta ao pai, Kafka e Assassinatos na Rua Morgue, Poe. Não por falta de dinheiro, eram edições de bolso, paguei 34 reais neles, mas pela fila enorme e o pouco número de atendentes em comparação a quantidade de clientes que se encontravam na livraria. Na fila, li algumas páginas de Carta ao pai, tem 109 páginas, pensei em finalizá-lo em um canto calmo, esperar a fila diminuir e só pagar pelas outras duas obras, só pensei. Me policiei, continuei na fila, afinal não sou melhor que ninguém, esses tipos de pensamentos comuns assim, utilizados para o auto-convencimento, e paguei pelos três. Percebi que estas cento e nove páginas, logo logo, seriam vencidas por mim, sem esforço, é uma leitura que flui, flui mais rapidamente do que deveria, devota-se menos tempo a ela do que mereceria, poderia matá-la ali, economizar e não trazê-la pra casa, não o fiz, paguei pelos três. Talvez por sentimento de apreciação de olhar para a capa roxa e deparar com o escrito em branco e em caixa alta KAFKA e logo abaixo, com letras um pouco mais finas, CARTA AO PAI, o retrato preto e branco estampado, é significante tê-lo em minha estante, é encantador olhar para a capa. Enfim, é bom tê-lo para podê-lo apreciá-lo quando bem entender, para lê-lo com calma.

Paguei pelos três, mesmo sem nunca ter lido nenhuma outra obra de nenhum destes autores, só uns contos e poesias de Poe, paguei-los por certos motivos: a grife intrínseca; o texto avassalador das primeiras páginas; e o primordial: eram de bolso, baratos e fáceis de manusear. Ah, tem um motivo bem claro para eu ter comprado O jogador, eu adoro pôquer, adoro jogos de cartas, não pude resistir a um livro que trata de jogos com a grife do Dostoiévski. Assassinatos na Rua Morgue fui influenciado a levá-lo para casa, além dos motivos já citados, porque queria conhecer a morbidez de Poe, veja que já falo aqui como se fosse um conhecedor. Não sei se, por causa da grife intrínseca, as capas parecem altamente persuasivas e enigmáticas, confesso que as capas, de um modo menor, junto aos outros requisitos, me levaram a pagar pelos três. Queria tê-los, e os tenho, ainda não por inteiro, ainda não os li, mas os tenho, são meus. Sou um cara que leu, lê ou lerá, Poe, Kafka e Dostoiévski. Sou um cara culto.

sábado, 26 de setembro de 2009

Metamorfose Escatológica


Imaginem, vocês, o raciocínio lerdo, atormentado por uma fagulha que insiste em não parar de cutucar o fundo raso da cabeça deste humilde que vos fala. Imaginem a ânsia, a angústia de materializar e exteriorizar, nem que seja o pior dos excrementos, nem que sejam as vísceras. Falar das vísceras é um troço complicado, tem grande chance de ficar um tanto, digamos, lugar comum, talvez piegas, ou até uma exibição disfarçada de autocrítica. Tática mais velha que subir pra cima (essa frase também está desgastada). Enfim, a artimanha de escrever sobre vísceras, e ainda antecipar o leitor expondo as mazelas do próprio texto, é mesquinha. Claro que pode sair um bom texto, sobre qualquer assunto pode-se escrever textos bons; não aqui, não hoje, é claro. Esse negócio de tentar ser humilde tá ficando chato. Essa coisa de ser arrogante também. Pior ainda é essa mania de tentar achar um meio termo para tudo. Tudo agora é a porra do bom senso. “Nem de mais nem de menos”. “Tudo que é demais faz mal, até água”. “Nem tanto ao céu, nem tanto ao mar”. Chavões ensebados no dia-a-dia. Poderia dizer que entram por um ouvido e saem pelo outro. Não, não poderia. Aquele sebo fica entranhado nos tímpanos, entrou e saiu, mas a gosma melequenta perpetua. Não se dá tempo para secar.

É tão visceral que, ao falar de entranhas, este, nem humilde, nem sabido, nem meia-boca (ou tudo isso junto), que vos fala, é obrigado a dividir estes ditos populares de merda que atormentam seus pobres ouvidos. Está tão entranhado que, ao falar de vísceras, este obriga-se a compartilhar a baba que lhe escorre pelos ouvidos todos os dias, aquela gosma grudenta que insiste, em vão, em limpar. Às vezes é bom olhar para dentro e deixar o bolo fecal sair. Vomitar, cagar, arrotar, escarrar, mijar, peidar. Depositar tudo num papel branco e depois jogar fora. Esgoto abaixo, mar abaixo, rua abaixo... Expor as entranhas, vísceras e bolo fecal a todos numa folha, que outrora, fora um belo pedaço de papel branco.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Diálogo

- Acha que se devia glorificar a bebida?
- Não mais do que qualquer outra coisa...
- Beber não é uma doença?
- Respirar é uma doença.
- Não acha os bêbados condenáveis?
- Acho, a maioria. E também a maioria dos abstêmios.
- Mas quem se interessa pela vida de um bêbado?
- Outro bêbado.
- Acha beber muito um hábito socialmente aceitável?
- Em Beverly Hills, sim. Na sarjeta, não.


Trecho do romance Hollywood, de Chales Bukowski

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A Emoção de Zé e Ulisses



Contradição, a marca de uma obra. O autor expõe suas mazelas, assina o atestado de mortal. Nivela-se. Não por baixo, nem por cima; nivela-se. Escreve, expõe suas mazelas; contradiz-se. Esta é a marca do mortal, do humano; aproxima-se. A sinceridade aglutina autor-obra e leitor. A exposição toca e é facilmente identificável pelo leitor, que se vê dentro da obra, dentro do escritor, são amigos, mais que isso, padecem dos mesmos sentimentos, são gente, são comuns, são mortais.
Os mesmos rancores e aflições, as mesmas euforias e medos, alegrias e desilusões, inerentes a ambos. Tão iguais e, ao mesmo tempo, tão singulares. São humanos, são mortais. Ninguém é herói nem vilão, extraordinário ou comum, os dois são extraordinários e comuns, heróis e vilões. De perto ninguém é herói nem comum, todos são Ulisses e Zés, foi alguma coisa assim que Eliane Brum disse, concordo.
Concordo também quando Charles Bukowski fala do medo da emoção, de obras que dizem nada, que colocam autor em pedestal, leitor na sarjeta; afasta. Não se fala a mesma língua, não há identificação com o mundo real, com o humano, com o mortal, são reles estórias, às vezes, bem escritas tecnicamente. Nada daquilo acontece, é ficção. “Por que ninguém dizia nada?”, Bukowski perguntou após as tantas tentativas de leituras buscando algum autor que gritasse algo que ele conseguisse escutar. John Fante gritou alto ao coração dele, e agora grita ao meu, Pergunte ao Pó, John Fante, tanto faz, obra ou autor, os dois uma só coisa, “um homem que não tem medo da emoção”, faço minha as palavras de Bukowski.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Leitura Divertida


Cansei de ler livros pela metade. Não vejo problema algum. A leitura tem que ser prazerosa, como assistir a um filme. É claro que, quem quiser se aprofundar mais na literatura ou no cinema terá que apelar para os clássicos, aí já não é mais entretenimento e sim uma busca de conhecimento. Desde criança aluguei filmes. No começo eram desenhos, filmes de super-herói, essas coisas. Depois, por influência, principalmente da minha mãe, comecei a ver filmes legendados, algumas porcarias que escolhia. Hoje, de vez em quando, consigo locar algo que me acrescente, às vezes até me forço a ver longas desagradáveis com o intuito de adquirir conhecimento, outras vezes paro de ver pela metade mesmo, sem remorsos.

Quando criança, minha mãe lia livros para mim, muitas vezes a mesma história se repetia todas as noites até eu enjoar. Na escola os professores recomendavam literatura infantil, depois infanto-juvenil, até chegar o segundo grau. Todo o pensamento é voltado para o vestibular, e os que deviam ser os nossos incentivadores de leitura recomendam livros chatos para moleques de quinze anos, e ainda querem que os leiam. Uns tantos adolescente lêem porque têm medo de irem mal nas provas ou já são condicionados, desde bebês, a serem competitivos, e nessa fase já estão preocupados com o mercado de trabalho, conseqüentemente com o primeiro teste para ver quem são os mais aptos a ganhar dinheiro e fazer uma carreira de sucesso (não pelo meu ponto de vista): o vestibular.

O hábito da leitura torna-se uma obrigatoriedade chata, onde, na maioria das vezes, quem lê as obras propostas tem desprazer. Ninguém é obrigado a gostar de todos os clássicos, nem querer lê-los. Ler deveria ser como ver um filme, aos poucos o gosto vai se apurando por si só, e a curiosidade levará às obras de qualidade, não como uma coisa imposta, mas naturalmente, como faço quando vou à locadora. Hora tenho vontade de pegar um filme tolo, hora loco um de qualidade, que me acrescentará. Deveria ser assim também com os livros. Mas não é. Porque ler livros virou sinônimo de ser cult, e ninguém quer ser pego lendo Paulo Coelho, por que não ler Paulo Coelho (e isso que estou falando de um autor que abobino)? O importante é ler, é assistir filmes, se não for um momento de prazer, ainda mais para quem não precisa disso com finalidade de sustento, não se tornará hábito. Leio porque gosto, vejo filmes porque gosto, se não me dá prazer fecho e desligo, o livro ou o DVD-player, a não ser que esteja num momento de adquirir conhecimento, por vezes faço esforço e vou até o final, mas digo com a ênfase de um presunçoso ignorante: este livro (ou filme) é uma porcaria.

sábado, 12 de setembro de 2009

Sugestão de filmes, não estão em ordem de preferência


Máfia
1- O Poderoso Chefão
2- O Poderoso Chefão II
3- Os Bons Companheiros
4- O Gângster
5- Cassino

Kubrick
1- Laranja Mecânica
2- Nascido para matar
3- O Iluminado
4- De olhos bem fechados

Hitchcock
1- Psicose
2- Frenesi
3- A sombra de uma dúvida
4- Um corpo que cai
5- Festim Diabólico
6- Disque M para matar

Outros
1- O sonho de Cassandra
2- Contos proibidos do Marquês de Sade
3- Na natureza selvagem
4- Parente... É serpente
5- O Monstro
6- O bebê de Rosemary
7- A outra história americana
8- Um sonho de liberdade
9- Noivo neurótico, noiva nervosa
10- Má educação
11- Irreversível
12- Réquiem para um sonho
13- Transpoint
14- O silêncio dos inocentes
15- Ponto de mutação
16- Amadeus
17- O Senhor dos Anéis (I, II e III, considero um filme só)
18- A lista de Schindler
19- A Sociedade dos Poetas Mortos
20- Entrevista com Vampiro
21- Obrigado por fumar
22 - Polp Fiction
23 - Watchmen
24 - Pátria Proibida
25 - Ilha das Flores (link 1 link 2)
26 - O Dia em que Dorival Encarou a Guarda (link 1 link 2)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Acreditar é preciso, mudar não é preciso


Há muito tempo venho fazendo críticas às religiões, crenças e igrejas, e, muitas vezes, aos religiosos ou aos que possuem algum tipo de crendice. Se é justo, não sei. Acho mais justo criticar as próprias instituições que se valem da ignorância ou ingenuidade alheia para enriquecer ilicitamente. Os que se entregam a essas instituições e enriquecem os manipuladores de massa, por qualquer motivo irracional, acham que estão fazendo o bem. Se por um lado há o conformismo inerente à alienação, por outro existe a crença num mundo melhor, que será alcançado através da fé e da transformação das pessoas. Crêem, além de todos os dogmas, na mudança do ser humano, conseqüentemente da sociedade por inteiro. Apesar de alienados, conseguem enxergar que há salvação num mundo de perdição.

Existem os comunistas, esquerdistas, socialistas, nazistas, fascista e outros itas por aí a fora. Todos acreditam, se não em Deus ou num ser supremo, em uma ideologia. Ideologia essa que tem o poder de mudar o mundo para melhor, pelo menos na visão de mundo melhor deles. Pode-se questionar os meios utilizados para realizar essa mudança, mas esse não é o mérito. A crendice, que foi tantas vezes criticada neste blog, é o ponto que queria chegar. Antes qualquer crença tola em mudança, por mais atroz que possa parecer – “defender” o nazismo e o fascismo hoje em dia é pedir para ser execrado -, do que a alienação conformista.

Direitistas, defensores do capitalismo, dos Estados Unidos, justificam atos inadmissíveis, dizendo que se qualquer país estivesse no lugar dele faria o mesmo. Ou afirmam que o ser humano é assim mesmo, que sendo “honestos” com o jogo do capitalismo já estariam fazendo suas partes. São descrentes, alienados, acreditam na grande imprensa e na cidadania exercida pelo voto, na grande ditadura disfarçada de democracia, imposta desde não sei quando pelos EUA. Pode até parecer teoria da conspiração, mas antes crer em conspirações malignas do que padecer do mal do século XXI: a descrença.


Mesmo a própria descrença não é descrença, e sim uma credibilidade no sistema, uma crença tão cega e irracional quanto às dos evangélicos ou comunistas. A diferença está na mudança. Crer que o mundo é assim e pronto é mais alienante do que conceber que a sociedade poderá ser transformada pela fé dogmática. A grande diferença: acreditar em mudança ou crer em estagnação.

sábado, 29 de agosto de 2009

Jesus é o Senhor

João Matheus, 26 anos, casado há seis anos, pai de dois filhos, fisioterapeuta. Não bebo, não fumo, não uso drogas, não jogo. Sou evangélico, frequento a igreja todas as quartas e domingos, religiosamente (com o perdão (e mais um trocadilho) do trocadilho), às 20h. Prazer.

Se existissem apenas Joãos Matheus... Que maravilha! Infelizmente o mundo não vive só de Joãos e Matheus, muito menos de Joãos Matheus; é duro, porém verdade. Um dia quem sabe, a sociedade será purificada e retificada, aos poucos os Josés tornar-se-ão Joãos Matheus, obedientes aos dez mandamentos, e enfim o Éden retornará, como num lindo e romântico filme que se chamaria “O retorno de Éden, a missão”.

Não haverá mais jogadores inveterados destruidores de lares, alcoólatras alucinados ao volante, fumantes poluindo o ar puro das cidades, drogados pedindo esmola e roubando para sustentar o vício, assassinos, ladrões, adúlteros... E a vida eterna estaria garantida a todos, que repousariam suas almas nos reinos dos céus, onde Jesus (alvo, olhos azuis e cabelos claros) é o Senhor.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Dois artigos de Luis Felipe Pondé


Publicados na Folha de São Paulo




Sonhos bobos... e tolos


Enquanto o mundo a nossa volta vai acontecendo, vamos nos adaptando. Tentando nos adaptar sem fugir das nossas raízes, mas é claro que esse mundo que acontece a nossa volta, por mais que lutemos, interferirá, mais cedo ou mais tarde, em nossas vidas. No início lutamos, enrijecemos, resistimos aos novos fatos. Boa parte desiste da luta nas primeiras oras, deixam-se levar pela preguiça e pelo medo de subverter a nova “onda”. Outros vão um pouco mais longe, mas também tombam. E há os que preferem morrer a perder a ternura.

Difícil achar quem prefira o atrito, a sombra da derrota, a possibilidade de ceder. Conformar-se e continuar vivendo impera no sentimento alheio. Arriscar a estabilidade não está mais na moda, e como a moda (costumes) dita o comportamento, o que há de essencial é a estabilidade econômica e a preocupação com o próprio umbigo. Equilíbrio econômico, tanto individual, quanto no âmbito de Estado: a moda agora é não ser oposição, é ser a oposição da oposição, o retorno do que já era, com intuito de continuar sendo o que sempre foi.

De repente seja apenas o fantasioso que impregnou no imaginário, mas o passado sempre parece mais romântico, mais tolo, mais... Repleto de sonhos bobos. Jovens petulantes e prepotentes superestimavam-se, tinham a ideia tola de que poderiam mudar o mundo que acontece a sua volta; acreditavam, talvez por intuição, que o mundo não estava de acordo com o que eles idealizavam, e de alguma forma, nem que fosse em discussões improdutivas, tentavam modificar qualquer coisa, mesmo que em vão.

Poder-se-ia dizer que os jovens de agora são mais inteligentes, mais realistas... Que têm os pés no chão. Poder-se-ia dizer que os velhos de hoje, os jovens de outrora, eram tolos e sonhadores e que ilusões não levam a lugar algum. Poder-se-ia dizer que Joe Gould foi um dos maiores tolos, que o livro “O segredo de Joe Gould”, de Joseph Mitchell, nem deveria ter sido escrito. Uma história de um mendigo (quem estiver lendo ou pretende ler o livro deveria parar de ler o post agora) que não acreditava na História contada nos livros de escolas, que estava escrevendo “A grande história oral da humanidade”, pois cria numa revolução da História, contada a partir dos relatos de pessoas “comuns”, e ao chegar nas últimas páginas o leitor depara-se com a mentira, descobre que Joe Gould estava escrevendo nada, que era um grande mentiroso. Poder-se-ia dizer que a história de um mendigo mentiroso não mereceria anos da dedicação de Joseph Mitchell e nem as árvores cortadas para a fabricação do livro. Poder-se-ia dizer que “O segredo de Joe Gould” fora escrito em vão. Poder-se-ia dizer... Mas não fora dito por alguma razão.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Sentimentos da razão


Tentar achar uma lógica para qualquer coisa é forçar a barra. É claro que sempre acabamos achando lógica para tudo ou quase tudo, e se não encontramos, damos um jeito, nem que seja o absurdo de atribuir um sentido só para satisfazermos a nossa própria inquietude de não conseguir viver em dúvidas e em um mundo onde nem o sentido e nem a lógica fazem, com o perdão da piada, sentido.

O sentimento simplesmente obstrui a razão, não estou nem dizendo que não se deva acreditar nesses sentidos acrobáticos que atribuímos ao longo da vida para melhor lidarmos com ela, somente que existe uma distinção que deve ser feita, do que se sente e do que se acredita, do que é e do que não é, da razão e do sentimento.
Uma coisa é não conseguir conceber certos fatos explícitos, e por sentimento ou intuição, deduzir que não é bem assim que as coisas funcionam. Outra coisa é não conceber, mas saber que não há lógica nem razão para chegar àquela conclusão, somente o afago de conseguir colocar sentido onde não tem.

É desconfortável saber que alguém que roube, mate e não é pego não receba nenhuma punição, então concluímos, sem estudos, que essa pessoa receberá sua punição invariavelmente, seja em vida, seja depois de morto. Também não é confortante reconhecer que alguém, por pura sorte (acaso) venha a desenvolver um câncer ou sofra um acidente grave e morra com pouca idade. Para aliviarmos a pressão de que nem sempre a vida é justa e é feita de acasos. Tudo bem pensar assim, só é preciso saber que é pura crença sentimental e não há fundo de racionalidade nisso.

Também não estou defendendo que para crer em algo necessita-se usar a lógica e nem que a vida deva ser regida por ela, muito menos que a razão é mais importante do que a emoção. Só há de se diferenciar as razões que levam às crenças e saber que de lógico não há nada e a vida é curta para se viver só de lógica e razão.

sábado, 8 de agosto de 2009

Esmero

Se um dia encontrares
E levares a todos os lugares,
Carregares contigo o peso,
Por considerares que deve ser levado a sério
Enganado estarás
É superestimo teu

Algo que te corroeu,
Te corrói e te destrói,
Sem ao menos perceberes que nada é tão sério
Que possa ser levado a sério

Como pode ser sério e passageiro
Porque tudo é passageiro,
Tudo passará
E quando menos esperares,
Resolvido estará

Desperdiçaste o que não volta
E o que não volta não é mais
Ainda bem que não o é
O que eras já não és

Resolvido estará
Como num passe de mágica
Nem que seja na morte que finda
No nascer do sol ou no cair duma lágrima.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Caras e Bocas

Ao entrar na sala, sem bater na porta, percebe que ali está sendo realizada uma reunião. Com a boca, a intrusa faz uma “cara” demonstrando o constrangimento de ter chegado à sala em hora imprópria. A expressão denominada de “cara” queria transmitir a seguinte mensagem: eu não sabia que vocês estavam em reunião, volto mais tarde.

Impressionante a capacidade de uma boca (digo, “cara”, ou melhor, expressão facial) tem de transmitir uma ideia, com sucesso e em frações de segundos, sem recorrer à língua (tanto o idioma, quanto o órgão localizado na cavidade bucal). É claro que uma “boca” (boca) só não faz verão, junto à expressão significante (significado e significativo) é necessário ressaltar a importância (de igual ou maior tamanho) do contexto a qual está inserida. Como o órgão beijoqueiro, ao expressar-se, necessita da contextualização do olhar, franzir da testa, contrair das sobrancelhas, a “cara” também depende de uma história por trás para que lhe atribuam o significado.

Falando em contexto, não se pode deixar de mencionar o repertório do emissor e do receptor da mensagem. O emissor - no caso a intrusa - pressupõe a capacidade do receptor - no caso os indivíduos em reunião - de inferir o significado, idealizado por ela, à sua “boca”. Devido a tantos fatores subjuntivos, a intrusa - desfazendo a “cara” que fizera ao entrar na sala e deparar-se com a reunião - retirou-se do recinto sem saber ao certo se fora compreendida. Do lado de dentro da sala, a reunião continuou, indiferente. Com muitas caras e bocas.

quinta-feira, 26 de março de 2009

A Dádiva da Dúvida

Eis que surge, do nada, uma ideia. Brilhante, opaca? Ideia. Em tempos de escassez, qualquer linha de pensamento é válida, ou, quem sabe, seria de mais valia o vácuo mental. Talvez a ausência de raciocínio seja sim, uma ideia, cuja interpretação acarretará uma dúvida paranóica: será esse silêncio a própria ideia? Ou será a falta dela? Também surgirá a incógnita: melhor um dito tolo, ou um silêncio calado? Mesmo que, o calar-se, por pura ausência de pensamento, um nada não dito, já não o é, o nada fora dito, mesmo que, sem dolo de haver significado, ele o tem.


Assim como o silêncio insignificante, palavras proferidas, muitas vezes, sem significado, têm o mesmo efeito. Fica o dito e redito por não dito. Tão difícil quanto mensurar o calar expressivo, mesmo que por pouco tempo, é interpretar palavras soltas que nada dizem, ou dizem o nada. Por vezes, é confusa até uma frase concisa, até porque, o caminho traçado a partir da ideia de transmitir um pensamento, nem sempre, ou geralmente, tem o objetivo simplório de dizer somente o proferido. De quando em quando, se não na maioria, o contrário da ideia é o propósito a ser disseminado.


Sendo brilhante ou opaca, simplória ou elaborada, estará sempre a cargo do receptor dar-lhe o sentido. Mesmo nos casos em que o transmissor for o receptor. Tais mecanismos, tanto o de criar ideias, como o de interpretá-las, permite mentirmo-nos. Eis que surge o que dá esperança: a dúvida.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Enquanto isso no meio da rua...

Nas sinaleiras, já vi malabarista, palhaço, palhaço-malabarista. No centro da cidade, mais especificamente na Filipe Schimidt, os homens-estátuas dividem a cena com índios tocando violão, entre outros cantores ou instrumentistas. Até aí tudo bem, já estava acostumado com isso. Hoje, vejo um homem-estátua localizado perto de um sinaleiro, sobre a faixa amarela que divide as mãos da rua, fazendo uma pose em que, as pontas dos dedos das mãos tocam as pontas dos dedos dos pés, com a bunda virada para cima. Agora, além do calçadão do centro da cidade e das sinaleiras, há artistas de ruas também no meio da rua. Ah sim, fiquei pensando que, em vez de ser um homem posando daquele jeito, de bunda pro ar, poderia ser uma mulher-estátua, seria mais agradável.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Ganhar na Mega Sena é para os fracos


Quando um fato de grande improbabilidade acontece, tende-se a procurar explicações esdrúxulas. Se uma pessoa cai do alto de um prédio e não morre, quase que automaticamente, pensa-se algo do tipo: não era a hora dela morrer. Em vez lembrar que, de tantas pessoas que caem, um número pequeno irá sobreviver, porém, a grande maioria irá falecer. Mesmo se a probabilidade for irrisória, como por exemplo ganhar na Mega Sena, existem tantos jogadores, que um tem que ganhar. Igualmente quando ocorre algo pouquíssimo provável, como alguém sobreviver ao cair do alto de um edifício, isso só acontece pelo fato de tantos outros terem morrido, mas é claro, que ninguém lembra do infeliz que espatifou-se no chão, afinal, era lógico que morreria.